Foto: Alex Fas
Tempos de definição são difíceis. Duros. Exigem de nós
energia que por vezes não temos—não é todo dia que queremos lutar contra
sentimentos díspares, complicados, que desejamos nos perguntar se realmente o
amor acabou, se o que sobrou foi só carinho e preocupação, ou se ainda existe
um resquício mínimo que guarda em si a possibilidade do renascimento. Não é
todo dia que temos fôlego para questionar o que fizemos de nossa vida até aqui
e qual o rumo que realmente queremos dar a ela. Cansa. Exaure.
Tudo muda quando se passa por uma cisão que altera a
maneira de ver o mundo: lá se vai a crença de um amor que resiste a tudo e fica
um gosto estranho de fracasso, como se as emoções, e as pessoas, pudessem ser
avaliadas em termos tão maniqueístas... Separar-se de alguém que se amou demais
é, antes de mais nada, triste. Mas tristezas, por mais fundas que sejam,
passam. Desde que não as alimentemos.
E a forma mais comum de alimentá-las é insistir em um
contato nocivo por nos trazer alento, um tanto duvidoso, mas um alento: a voz
conhecida, as palavras um dia tão queridas, o choro que sabemos como estancar,
a risada que nos lembra dias mais ensolarados (você já reparou como nos
sentimos mais acolhidos com a segurança do passado conhecido, com todos os seus
problemas, do que com o vislumbre do futuro?). Alimentá-la é achar que isso
pode, em algum nível, fazer bem para algum dos dois. É como manter vivo um
paciente com falência cerebral na esperança de que um milagre o faça acordar
sorrindo, inteiro. Dói todos os dias em que isso não acontece. E dói mais ainda
quando, finalmente, ele morre— mas, então, pelo menos, todos estão livres para
seguir a vida.
A verdade é que enquanto não decidimos se acabou ou
não, se queremos aquela relação de volta (com todas as idiossincrasias,
neuroses e desgastes que nos fizeram partir) ou se ela faz parte do panteão do
passado, nada anda. Ninguém novo pode entrar, arejar os dias. Nem sozinho
ficamos bem. Só a vulto constante da tristeza nos acompanha, mesmo nas horas
mais alegres—ela sabe que, a qualquer momento, a guarda baixará e ela terá
espaço suficiente pra se instalar.
(Ailin Aleixo)
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