Sobre a velhice

Faço minhas palavras do Prof. Doutor Eugénio Lisboa:


“A velhice, Senhor Primeiro-Ministro, é, com as dores que arrasta – as físicas, as emotivas e as morais -, um período bem difícil de atravessar. Já alguém definiu como departamento do Purgatório... Ser velho é também isto: acharmos que a primavera já não é para nós, que não temos direito a ela, já, de certo modo, nos definiu. Hoje, não. Hoje, sentimos que já não interessamos, que, até, incomodamos. Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direção, mandar-nos para o cimo da montanha,
Créditos da foto: www.ppt.photl.com
embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados, (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até aos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para a “Segurança Social”, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longo. Chegado, já sobre tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações mos custos da saúde, atualizações salariais – tudo pela borda fora, incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheirinhos e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter, para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.”

[In Jornal “As Artes Entre As Letras” (págs. 22/23) Prof. Doutor Eugénio Lisboa, (págs. 22/23), 26 setembro 2012]

Angelino Pereira

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