Obra: Mariano Fortuny Marsal-1867
Esopo era um escravo de rara inteligência que
servia à casa de um conhecido chefe militar da antiga Grécia. Certo dia, em que
seu patrão conversava com outro companheiro sobre os males e as virtudes do
mundo, Esopo foi chamado a dar sua opinião sobre o assunto, ao que respondeu
seguramente:
- Tenho a mais absoluta certeza de que a maior
virtude da Terra está à venda no mercado.
- Como? Perguntou o amo surpreso. Tens certeza do
que está falando? Como podes afirmar tal coisa?
- Não só afirmo, como, se meu amo permitir, irei
até lá e trarei a maior virtude da Terra.
Com a devida autorização do amo, saiu Esopo e,
dali a alguns minutos voltou carregando um pequeno embrulho. Ao abrir o pacote,
o velho chefe encontrou vários pedaços de língua, e, enfurecido, deu ao escravo
uma chance para explicar-se.
- Meu amo, não vos enganei, retrucou Esopo. A
língua é, realmente, a maior das virtudes. Com ela podemos consolar, ensinar,
esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua os ensinos dos filósofos são
divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras dos poetas se
tornam conhecidas de todos.
- Acaso podeis negar essas verdades, meu amo?
- Boa, meu caro, retrucou o amigo do amo. Já que
és desembaraçado, que tal trazer-me agora o pior vício do mundo.
- É perfeitamente possível, senhor, e com nova
autorização de meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício
de toda terra.
Concedida a permissão, Esopo saiu novamente e dali
a minutos voltava com outro pacote semelhante ao primeiro. Ao abri-lo, os amigos
encontraram novamente pedaços de língua. Desapontados, interrogaram o escravo e
obtiveram dele surpreendente resposta:
- Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo
modo que a língua, bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando
relegada a planos inferiores se transforma no pior dos vícios. Através dela
tecem-se as intrigas e as violências verbais. Através dela, as verdades mais
santas, por ela mesma ensinadas, podem ser corrompidas e apresentadas como
anedotas vulgares e sem sentido. Através da língua, estabelecem-se as
discussões infrutíferas, os desentendimentos prolongados e as confusões
populares que levam ao desequilíbrio social. Acaso podeis refutar o que digo?
indagou Esopo.
Impressionados com a inteligência invulgar do
serviçal, ambos os senhores calaram-se, comovidos, e o velho chefe, no mesmo
instante, reconhecendo o disparate que era ter um homem tão sábio como escravo,
deu-lhe a liberdade. Esopo aceitou a libertação e tornou-se, mais tarde, um
contador de fábulas muito conhecido da antiguidade e cujas histórias até hoje
se espalham por todo mundo.
(Desconheço autor)
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