Ontem eu resolvi visitar uma senhora muito
sábia e amiga a quem não via há muito tempo. Foi uma tarde agradável regada por um delicioso café. Conversamos sobre assuntos diversos e ela me falava do seu passado
ora com saudade, ora com tristeza, quando de repente uma lágrima rolou na sua
face e eu perguntei a razão... Ela fitou-me nos olhos e disse com pesar: na
minha vida inteira eu sempre fui uma escada e hoje já não sou mais nada além de um
objeto inútil jogado num canto qualquer. Pensei por alguns instantes...
Imaginei todo o processo para a construção de uma escada desde o machado afiado
nas mãos do homem derrubando uma árvore cheia de vida e aquela cena cada vez
mais nítida na minha mente. A jovem e cobiçada escada - servindo de idas e
vindas facilitando a vida dos seus usuários, encurtando distâncias, aproximando
do alvo objetivado. Com o passar dos anos ela fora ficando gasta – velha e já
sem utilidade alguma além do fogo ou o lixeiro. Já não podia mais se recompor e
voltar à floresta de onde fora brutalmente arrancada. Por fim, meio sem jeito e
perdida nas palavras respondi: entendo que a senhora passou sua vida toda
ajudando outras pessoas e esqueceu-se de si mesma, porém não se esqueça de que até
mesmo a velha escada plantou boas sementes. Chegar até aqui não foi por acaso e
certamente a herança sua como escada será entregue e bem distribuída aos seus posteriores...
Despedi-me daquela anciã que outrora fora tão
linda, pois ainda conservava traços marcantes de beleza singular dos seus anos
dourados. Desde então, estou sempre refletindo sobre o que é ser “escada velha”
deixada para trás...
-Dora Vitoriosa-
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