Todos
os dias sempre à mesma hora ela sentava-se à margem do imenso lago quase todo
coberto por uma densa bruma, cercado por muitas árvores que deixavam o local
meio nostálgico. O silêncio tomaria conta daquele ambiente bucólico se não
fosse pela chegada de alguns pássaros celebrando o retorno aos ninhos trazendo
o alimento de seus filhotes. Sentada sobre uma raiz de uma árvore caída que se
assemelhava a um banco, ela riscando o chão com um pedaço de madeira navegava
no vazio de sua alma dilacerada pelas mazelas da vida, algumas lágrimas rolaram
na sua face rosada... Subitamente o choro discreto fora interrompido pelo eco
de uma voz masculina que surgiu repentinamente do meio daquelas brumas já tão
conhecidas e companheiras de tantas tardes solitárias, ela não conseguia
identificar a possível figura embora a tenha visto outras vezes. Aquela pequena
aparição tão distante ora parecia um reflexo do sol que timidamente tentava
romper as cortinas do misterioso cenário, ora parecia com a sombra de um
pássaro, porém o pequeno ponto azul turquesa movia-se lentamente em sua direção
iniciando um pequeno diálogo deixando-a radiante e feliz. Ela avançava, ele
recuava e nessa dança ficaram juntos uma tarde inteira.
No dia seguinte ela retornou ao lago
como de costume, esperou alguns instantes até ele aparecer e darem início ao
pequeno diálogo com frases cortadas, repleto de metáforas. A mulher andava
inquieta contando as horas que precediam ao grande encontro à beira do lago, e
com um pouco de sorte falar longamente com seu amigo misterioso. Certo dia ela
estava tão aflita que resolveu antecipar sua chegada e foi pela manhã à procura
do misterioso ser que preenchia o vazio do seu coração com palavras generosas
de carinho, respeito, amizade e lá já estava ele saudando-a:
-
Que este pássaro azul traga o arco-íris à sua janela para desejar-lhe um feliz
fim de semana! O coração da mulher quase salta de tanta felicidade e ela disse
a si mesma:
-
É ele! O lendário Pássaro Azul!
Ele
sorriu e disse à mulher:
-
Então vamos voar muito longe - no céu como este pássaro - e ver a nossa terra
de cima, que é linda, então podemos cantar uma canção para o verde do nosso
planeta! Mas o Pássaro Azul não pode ser tocado. Se isso acontecer ele fugirá
para muito distante.
A mulher sabia que seu amigo – o Pássaro
Azul – estaria sempre lá, no entanto era impossível tocá-lo, pois o manto que
guardava seu mistério não poderia ser rasgado jamais.
Mergulhada
em profunda tristeza ela levantou-se e foi embora...
-Dora Vitoriosa-
Imagens coletadas da internet
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Um
pequeno texto carregado de sentimentalismo, como se o eu lírico ( chamarei o narrador
assim, fica mais poético) quisesse externar seu próprio eu personificado na
mulher de voz lamurienta, reflexo de suas dores.
A
chegada dos pássaros parece trazer o consolo, a felicidade para ela, quando a
voz masculina, mergulhada em mistério, dialoga com ela. Contudo tudo é
passageiro, um verdadeiro carpe diem
oferecido por ele à sua interlocutora tendo como cenário um lago.
O
texto é permeado pela presença do claro e escuro que se alternam conforme a
presença ou ausência do misterioso “pássaro”.
Para
a mulher a companhia desse ser tornou-se a razão de seus dias mais alegres, mas
essa felicidade é tão fugaz quanto seu próprio amigo misterioso que se esquiva
a cada tentativa de aproximação.
Enfim
vencida, quem sabe, pelo cansaço, ou apenas se retraindo temporariamente em
busca de novos argumentos que convençam seu amigo-pássaro a permanecer ao seu
lado, ela vai-se. Por quanto tempo?
Rubinha
Lemos