Reinvenção

Photobucket



A vida só é possível
reinventada.


Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

(Cecilia Meireles)

Encontro de Almas Gêmeas

O encontro das almas gêmeas acontece muito antes do que no plano físico.

Primeiro é o IDEAL ESPIRITUAL ou seja missão. Nesse estágio, juntas, as almas gêmeas tem um desenvolvimento que jamais conseguiriam estando separadas. Há uma imensa felicidade e se brigam ou se separam, parecem decair ou chegam mesmo a perder a razão da vida.

Segundo estágio é o IDEAL INTELECTUAL. Nesse estágio as almas gêmeas tem os mesmos ideais, gostam dos mesmos assuntos. Ambas querem obter uma elevação cultural e intelectual.

O terceiro estágio é CONSCIÊNCIA E INTERESSE. Nesse estágio, não há lamentações, pois sabem que são como um todo, um único e perfeito. O estado de ânimo reflete como um espelho no outro. A doença de um entristece o outro. Aqui é onde o sentimento enobrece, e esse estágio geralmente acaba quando um dos parceiros falecem.

O quarto estágio SIMPATIA. Elas se atraem geralmente quando são bem humoradase tem uma vida sempre ativa. Aqui não há sentimento de raiva, de ódio, de rancor. Nesse estágio, as almas gêmeas por estarem unidas por uma consciência superior,não existe, a necessidade de palavras de baixo calão.

O quinto estágio DESEJO. Aqui, as almas gêmeas, homem e mulher, se entregam a paixão, à procura. Existe a consciência de diálogo a fio, respeito e planos para o futuro.

O sexto estágio é o FÍSICO. É o período do contato, do abraço,dos beijos, dos carinhos, do ato sexual, é onde tudo se torna mais intenso, é onde há a libertação kármica (êxtase sexual). É a evolução dos dois. Esses são os estágios das Almas Gêmeas.

A procura das Almas Gêmeas são intuitivas, são desejos puros.

Quando há esse encontro, não existe quotidiano, regras, ou sentimentos mais puros. Há uma harmonia de espírito, intelecto, desejos, conquistas.

Webmaster: Bethynha

http://www.bethynha.com.br/alma1.htm

Pesquisando sobre almas gêmeas – assunto que me fascina – encontrei este lindo texto que chamou a minha atenção e não resisti em postar uma parte dele aqui. Não que o texto na sua totalidade não tenha me agradado, pelo contrário é todo bom, tanto que segue o link para que você o leia na íntegra.

Um abraço do tamanho da paz!

-Dora Vitoriosa-

@->-Dia e Noite


Às vezes é necessário fazermos sangrar o coração para evitarmos uma dor ainda maior no futuro. Vou lembrar mais de mim a partir de hoje.
Lembro-me bem ter falado esta frase repetidas vezes na noite passada. Quase não dormi e acordei mau humorada por tamanha sofreguidão vivida em sonhos e principalmente acordada. Ora te odeio pra depois amar ainda muito mais. Vivo num emaranhado de sentimentos revoltos pelo simples fato de não poder tirá-lo dos meus pensamentos. Quem é você afinal e que poder é esse que me faz pedir demissão de mim mesma? Não tenho mais controle, porém ainda mantenho os pés no chão para não cometer a loucura de gritar teu nome bem alto até que o vento leve uma mensagem e deixe-a no destino errado. Não posso ferir teu caminhar e mergulho na dor inexorável que dilacera minha alma.
Tal qual Ariadne dei-te o fio e espero-te aqui do lado de fora. Teu minotauro está dentro de ti mesmo - Toma minha mão...
- Dora Vitoriosa -

Balada do Amor Através das Idades


Eu te gosto, você me gosta

desde tempos imemoriais.

Eu era grego, você troiana,

troiana mas não Helena.

Saí do cavalo de pau

para matar seu irmão.

Matei, brigámos, morremos.

Virei soldado romano,

perseguidor de cristãos.

Na porta da catacumba

encontrei-te novamente.

Mas quando vi você nua

caída na areia do circo

e o leão que vinha vindo,

dei um pulo desesperado

e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro,

flagelo da Tripolitânia.

Toquei fogo na fragata

onde você se escondia

da fúria de meu bergantim.

Mas quando ia te pegar

e te fazer minha escrava,

você fez o sinal-da-cruz

e rasgou o peito a punhal...

Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)

fui cortesão de Versailles,

espirituoso e devasso.

Você cismou de ser freira...

Pulei muro de convento

mas complicações políticas

nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno,

remo, pulo, danço, boxo,

tenho dinheiro no banco.

Você é uma loura notável,

boxa, dança, pula, rema.

Seu pai é que não faz gosto.

Mas depois de mil peripécias,

eu, herói da Paramount,

te abraço, beijo e casamos.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma Poesia'

Onde estão os seus olhos?

Um adolescente, após ter sido castigado por seus pais várias vezes, e chegado a conclusão de que não conseguiria se corrigir, dirigiu-se ao diretor do colégio e humildemente perguntou:

" Professor, o que devo fazer para não cometer esses erros novamente? Tenho me esforçado, mas não estou conseguindo!."

O mestre então, sabiamente, tomou um copo, encheu-o de água e entregou-o ao jovem, dizendo: " Filho, ande com esse copo por todo o colégio, entre em todas as salas, suba e desça todas as escadas, entre em todos os cantos e becos, nos jardins, no sótão e volte aqui sem derramar uma só gota dessa água."

"Impossível" - disse o jovem. "Não vou conseguir!". "Se você quiser, vai conseguir sim" - disse o mestre.

O jovem saiu, devagar, com os olhos fixos no copo. Subiu e desceu escadas, entrou e saiu de salas, cantos e becos, sótão, jardins, e voltou sem ter derramado a água.

O mestre olha-o, bate-lhe nos ombros carinhosamente e diz: "Não viu as garotas que passeavam pelo jardim no horário de aulas? Os colegas que te convidavam para um copo de bebida, ou uma tragadinha, um cigarrinho?".

"Não" - responde o jovem. "Eu estava com os olhos fixos no copo".

O mestre sorri, e diz: "Se você fixar os olhos em Deus, como fez com o copo, terá a força que tanto precisa para vencer as tentações e não cometerá mais as faltas pelas quais tem sido castigado. Olha para Deus, e deixe-o ser o rumo da sua vida!"


Deus te abençoe!!!

www.mensagensvirtuais.com.br

O segredo da vida




Quando o Senhor Deus estava criando o mundo, chamou seus

arcanjos.
O Senhor pediu aos arcanjos que o ajudassem a decidir onde colocar o segredo da vida.
"Enterre-o no chão", respondeu um anjo.
"Coloque-o no fundo do mar", disse outro.
"esconda-o nas montanhas", sugeriu mais um.
O Senhor respondeu:
"Se eu escolher qualquer dessas coisas, apenas alguns encontrarão o segredo da vida. O segredo da vida deve estar acessível a todos!"
Um anjo replicou: "Já sei coloque-o no coração dos homens. Ninguém pensará em procurar ali."
"Sim", disse o Senhor. "Dentro do coração dos homens."
E assim foi feito - o segredo da vida está dentro de todos nós.

D.A.

A Menina e o Pássaro Encantado


Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.

Ele era um pássaro diferente de todos os demais: Era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta,
vão embora para nunca mais voltar.
Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...
Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor.
Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.
Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.
- Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você ...
E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça.
... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga.
Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as estórias.
A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.
Mas chegava sempre uma hora de tristeza.
- Tenho que ir, ele dizia.
- Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar ...
- Eu também terei saudades, dizia o pássaro. Eu também vou chorar. Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios ... E o meu encanto precisa da saudades. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades.
Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.
Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite. Imaginando se o pássaro voltaria.
E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz.
Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera.
Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu.
Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro.
- Ah! Menina ... Que é que você fez Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...
Sem a saudades, o amor irá embora ...
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu.
O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu.
Não, aquele não era o pássaro que ela amava.
E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo ...
Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola.
- Pode ir, pássaro, volte quando quiser ...
- Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudades chegue e eu tenha vontade de voltar.
Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar ...
E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudades crescia.

- Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo...

E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos.
- Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje!
Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque em algum lugar ele deveria estar voando.
De algum lugar ele haveria de voltar.
Ah! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...
E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento.
- Quem sabe ele voltará amanhã ...

Rubem Alves


@->- Conflitos da alma


Ele observa da sacada de seu apartamento que a praia está vazia, o brilho da lua reflete nas ondas que se erguem ameaçadoras para morrerem nas areias brancas a formarem imagens de um cenário que se tornou comum para ele. Emocionalmente perturbado, abre uma gaveta da cômoda, pega um envelope amarelado pelo tempo, põe no bolso da bermuda e caminha em direção à sua companheira muda de tantas noites iguais – uma pedra onde costumeiramente senta-se para olhar o mar e relembrar com saudades os anos vividos ao lado da mulher que mais amou na vida.
A escuridão refletida em sua alma é acentuada pelo vento forte trazido pelas ondas do mar tornando-se neste instante o mensageiro das lembranças que em vão tenta esquecer. O coração aperta e as lágrimas rolam em seu rosto. Não consegue perdoar a si mesmo por ter rompido um relacionamento de tantos anos. Abre a carta e reler atentamente cada línea de um longo texto romântico e apaixonado – é que ela lhe escreveu durante um período em que estiveram distantes um do outro. Ele sabe onde ela vive, mas não deve procurá-la por razões que ele mesmo desconhece.
Mais uma onda se aproxima e ele mergulha e a cena se repete por vários metros, como se aquela água salgada pudesse tirar de sua alma a dor daquela tarde em que ele foi um tolo ao deixar seu amor partir chorando depois de lhe dizer adeus. Será se em algum lugar ela também pensava nele? Nunca obteria a resposta para tal pergunta
Deitado na areia ele perde a noção do tempo entregue aos seus pensamentos e mais uma vez observa aquele universo mágico e frio que o cerca: o mar... a lua... a noite escura. Além da voz interior que o condena, tem o barulho das ondas que mais se parecem murmúrios. Levanta-se e vai pegar a carta que deixou sobre a pedra. Só então percebe que alguém o observava e caminha a passos apressados em sua direção.
-Dora Vitoriosa- e Rubinha Lemos
Não entendo como conseguimos escrever tais linhas diante de tão diferentes estilos que temos, mas considere que uma de nós despiu-se de si e mergulhou no mundo da outra. Qual das duas despersonalizou-se cabe a você descobrir, caro leitor, se assim desejar.
Confesso que as letras não é meu forte, aliás até agora não me descobri, mas diante da tarde maravilhosa regada a café e grão de bico, além de um caqui como sobremesa senti-me inspirada para ajudar minha pobre amiguinha em seus delírios românticos.
Para encerrar deixo-lhes um conselho, troquem o grão de bico por feijão cozido e o café por uma deliciosa coca cola bem geladinha, rsrs.
Ósculos e amplexos bem à moda antiga...
Rubinha Lemos

@->- Hoje



Invoquei os deuses para me ajudarem a compor um poema para ti. Roubei de Orfeu sua lira, porém, Bóreas impediu que as notas de minha canção rude chegassem aos teus ouvidos. Viajei no tempo na esperança de receber ajuda de quem cantara o amor sem igual: Homero...Camões...Byron e tantos outros da mesma estirpe - nenhum atendeu ao meu pedido suplicante. Em Hipocrene fui informada de que havias passado por lá, recuei pensativa...Certamente a uma musa inspiradora fora concedido o poder de embalar teu sono com uma linda canção de “Feliz Aniversário!”.

-Dora Vitoriosa-

Cisne Negro e O Lago dos Cisnes



Era uma vez… Se o leitor quiser fundo musical, ouça “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky.

Odete era uma linda jovem que vivia alegre no campo com sua família. Um dia, um feiticeiro que morava na região encantou-a na forma de um cisne branco. Assim sendo, durante o dia, ela era a rainha dos cisnes e à noite voltava a ser a bela moça.

Como podia a mãe de Odete aceitar tamanha desventura? Desolada, sem saber o que fazer, ela caiu num choro demorado. E chorou, chorou… Chorou dias e noites. Derramou tantas lágrimas que deram para formar um lago cristalino num vale que havia nas proximidades da casa. Durante o dia, quem passasse pela região avistava, à beira do recente lago, um belo cisne coroado, quem sabe o mais belo cisne que já havia visto.

Com o tempo, outros cisnes foram chegando por ali. Eram moças da redondeza também encantadas pelo feiticeiro. Os que conheciam o feiticeiro contavam que ele tinha uma filha de nome Odile e que, segundo ele dizia, em breve, ela se casaria com aquele que seria o rei daquele país. Presumia o bruxo que, enfeitiçando as moças daquela terra, o príncipe acabaria se encontrando com sua filha.

Chegou o dia do aniversário de 21 anos do príncipe e, conforme estava determinado desde que ele nascera, durante a festa de comemoração, ele escolheria entre as convidadas aquela que seria sua esposa. Entediado com tal obrigação, o príncipe saiu para caçar com seus amigos. Havia ganhado um novo conjunto de arco e flechas e queria experimentá-los. Cavalgando pelo campo, os caçadores acabaram se deparando com o recente lago e o príncipe logo foi atraído pela elegância dos cisnes que estavam lá a mergulhar. Num instante, ele viu-se atraído por um cisne que usava uma coroa na cabeça.

Impressionado com a beleza do lugar, o príncipe decidiu parar por ali para descansar. Acomodou-se e pediu aos amigos que não atirassem suas flechas. Em pouco tempo, o sol se põe e de repente o lago dos cisnes fica rodeado de belas moças vestidas de branco. Então, uma jovem de rara beleza se dirige ao príncipe e lhe conta sobre o encantamento. De dia, ela e as companheiras eram cisnes e de noite voltavam a ser as moças que eram antes. E que havia apenas uma forma de ela se tornar mulher para sempre. Para isso, ela teria que se casar com um moço que lhe fosse fiel para sempre.

Enquanto conversava com a moça, o príncipe se viu perdidamente apaixonado. A noite foi passando e quando chegava a hora de o sol iluminar o dia, o príncipe agiu ligeiro. Disse-lhe que ela era a sua escolhida convidou-a para festa que seria dada no castelo na noite seguinte.

O feiticeiro, ah, o feiticeiro. Aquele era o seu tão esperado dia. Não seria aquele cisne coroado que haveria de lhe atrapalhar. Seguro de que restavam poucas moças casadouras naquele reino, usou de sua magia e fez com que a filha Odile se tornasse semelhante a Odete. Comprou-lhe um belo traje a rigor e conduziu-a para a festa com a obrigação de conquistar o príncipe.

Naquela noite, o castelo recebeu a mais bela decoração de todos os tempos. Acompanhadas de suas famílias, as candidatas a princesa chegavam, cada uma mais suntuosa do que a outra. De braços dados com o pai feiticeiro vestido para uma cerimônia real, chegou Odile, toda faceira, certa de que aquele era o seu esperado dia. O príncipe, que havia visto a amada apenas uma vez e sob o clarão da lua, acreditou que aquela fosse a moça cisne. Dirigiu-se a ela e lhe fez juras de amor eterno. Nessa hora chegou Odete. Ao vê-lo sorridente a dançar, sente-se traída. Como podia ser? Seu encanto nunca seria quebrado… Num momento, o príncipe percebe o olhar desolado da moça que acabava de chegar e sente que havia jurado amor eterno a uma pessoa errada.

Ao ver a troca de olhares, o feiticeiro pressente que o maior negócio de sua vida estava prestes a se arruinar. Então, aproveita de sua força para fazer com que Odete desapareça do salão voando pela janela. O príncipe, ao ver a amada naquele voo, corre até a janela e se atira atrás dela. Pede-lhe perdão e, juntos, caminham até ao lago dos cisnes.À beira do lago, o príncipe lhe faz juras de amor eterno. No entanto, ela sabendo que estava condenada a ser cisne para sempre por causa do encantamento, em desespero, pula dentro do lago. O príncipe a segue, pois nada mais lhe importava. Se o amor não podia ser realizado, ele morreria junto com a amada.

Dizem que, neste momento, o feiticeiro perdeu todo o seu poder e todas as companheiras do lago se tornaram livres do feitiço. Elas contaram que, ao amanhecer, meio a uma suave neblina, viram os espíritos dos apaixonados sobrevoando o lago.

Caro leitor, este é um conto de fadas alemão, dizem, atribuído a E. T. A. Hoffmann. Casos de amor impossível narrados pela literatura passam a fazer parte do imaginário popular, não é mesmo? Acabam inspirando as mais diversas manifestações de arte. O conto “O Lago dos Cisnes” serviu de inspiração para a música de Tchaikovsky (Rússia, 1840-1893) que a compôs para um balé, em 1876, por encomenda do “Teatro Bolshoi de Moscou” e que foi representado no ano seguinte sem fazer sucesso. Pelos registros da mídia, a companhia de dança escolhida não conseguiu interpretar bem a peça. A não ser a música, bailarinos, coreografia, cenografia e orquestra, novidade implantada no balé por Tchaikovsky, nada agradou ao público. Assim, a peça ficou de molho por quase 20 anos. Em 1895, depois da morte de Tchaikovsky, com a coreografia de Marius Petipa e Lev Ivanov e sob a supervisão de um dos irmãos do compositor, uma nova montagem foi encenada no Teatro Marinsky, em São Petersburgo e fez enorme sucesso. A partir desta data, “O Lago dos Cisnes” tem sido interpretado no mundo inteiro sob as mais diversas concepções de diferentes diretores. Ao longo dos tempos, os enamorados têm seus destinos diversos do que ocorre na peça original. Sendo que em algumas delas os enamorados são destinados a serem “felizes para sempre”. Segundo conta-se, Odile, a filha do feiticeiro, não teve a forma de um cisne negro na concepção de Tchaikovsky e somente surgiu nas apresentações de “O Lago dos Cisnes” na década de 40.

“Cisne Negro”, filme de Darren Aronofsky , 2010, traz a metalinguagem de uma nova versão de “O Lago dos Cisnes”, cujo diretor-personagem, Thomas, pretende que seja distinta da do Bolshoi. No desenrolar desse filme, dores físicas e psicológicas das pessoas envolvidas com a apresentação e principalmente da personagem Nina, bailarina que se prepara para dançar o Cisne Branco e o Cisne Negro, vão sendo mostradas ao público ao som da envolvente música de Tchaikovsky. Narrativa e música vão crescendo, crescendo até chegarem a um final esplendoroso.

Entendi o filme como uma obra de arte. Mas, não deixa de ser uma história de terror. (Lembrei-me de Hitchcock, o grande diretor-artista do cinema de terror.) O espectador, que costuma ver o balé com toda a sua leveza e exuberância, ao acompanhar as situações por que passam as pessoas que fazem parte de uma companhia de dança na preparação de um grande espetáculo, dá de cara com os mais diversos sentimentos humanos: medo do fracasso, inveja, ciúme, vingança, decepção, desespero, carinho, melancolia, tensão, alívio, êxtase. Quem o ver, verá. Sem dizer que terá a melodia de “O Lago dos Cisnes” recorrente em sua memória nos dias seguintes. Difícil esquecer.

Curiosidade a respeito de Tchaikovsky e o amor:

Nadejda von Meck, uma milionária russa apaixonada por música, tornou-se protetora de Tchaikovsky e trocava cartas com ele, com a condição de que os dois jamais deveriam se encontrar, comunicando-se somente por cartas. E em uma de suas cartas, Tchaikovsky pinta seu auto-retrato, no que se refere ao amor: “Você me pergunta se eu conheci outro amor que não o amor platônico. Sim e não. Se a questão me tivesse sido colocada de outra forma: ‘Você experimentou a felicidade de um amor completo?’, minha resposta seria: não, não e não! Mas pergunte-me se sou capaz de compreender a força imensa do amor, e eu lhe direi: sim, sim e sim!”.

Uma belíssima interpretação de “O lago dos cisnes”: Great Chinese State Circus - Swan Lake

http://www.youtube.com/watch?v=4sMc-p19FIk

Trailer de “Cisne Negro” – Black Swan:

http://www.youtube.com/watch?v=5jaI1XOB-bs

Créditos:

Terezinha Pereira

http://www.almacarioca.net